Contribuição sobre o setor bancário

Em abril foi lançado o convite no Brasil a “se associarem ao rol de acusações ao capitalismo e aos governos a seu serviço que será elaborado em países de todos os continentes”. Publicamos a contribuição de Suzi Rodrigues, presidente do Sindicato dos Bancários de Pernambuco.


Contribuição sobre o setor bancário

Por Suzi Rodrigues, Presidente do Sindicato dos Bancários de Pernambuco

Primeiramente quero agradecer ao DAP/PE e ao Comitê Internacional de Ligação e Intercâmbio. Vou responder as perguntas e os desafios do enfrentamento que temos como categoria bancária contra o capitalismo que tem feito tanto mal a sociedade e ao mundo. Aqui no Brasil, se expressa nos desmontes das empresas públicas, e na retirada dos direitos da classe trabalhadora.

O capitalismo no período de pandemia, tem atingido a categoria bancária. Vários bancários e seus familiares tem se contaminado com o vírus e adoeceram e alguns chegaram a morrer, assim como os seus familiares. Desde o início da pandemia lutamos por EPIs, equipamentos de segurança, escalamento, diminuição da jornada, exigimos teste em massa e finalmente estamos lutando para conseguir a vacina. Os bancários são considerados pelos governos como serviços essenciais, mas não tiveram prioridade na vacina. Não pararam suas atividades, nem no período de lockdown, principalmente. Vários feriados que foram decretados, os bancários tiveram que trabalhar. Os bancos não seguem os protocolos de Biossegurança. E ainda tem gerentes, gestores que negam a doença dos funcionários e não querem que os bancários entreguem os atestados da doença.

Os bancos públicos, eles desempenham papel fundamental na economia brasileira são um instrumento importantíssimo na política econômica, de promoção do desenvolvimento econômico e social.  Após o Golpe, Temer resgatou a intenção de privatizar e enfraquecer os bancos públicos e empresa públicas como a Petrobras, Eletrobras, Correios. Sem os bancos públicos, nós vamos ter muito prejuízo para a população brasileira. Teremos menos estudantes entrando na universidade, comida mais cara, também vai diminuir o financiamento para Casa Própria para pessoas de baixa renda e aí a gente vê a dificuldade que tem o Brasil quando não tem investimento público.  Aumenta a desigualdade entre as regiões e também não tem investimento em infraestrutura em setor como pequenos e micros, como os agricultores familiares, que a gente sabe que só quem financia eles são os bancos públicos. Então, os bancos públicos são fundamentais na função social para setores importante, de fortalecimento para o desenvolvimento socioeconômico no nosso país. Os bancos privados, não tem um compromisso social, o que vale é o lucro. Foi através das instituições públicas que a gente pode aumentar o bem-estar social.  Um exemplo concreto de privatização que podemos destacar é a Caixa Econômica. Oficialmente eles não podem privatizar nenhuma empresa pública porque tem regras no congresso, mas eles podem fatiá-las de modo que vai sucateando, precarizando e diminuindo o papel social deles. No caso da Caixa, mesmo que não admitam que é a privatização, tem as vendas dos ativos ou IPO, de algumas subsidiárias que fazia parte deste plano estratégico. Também tem a luta dos bancos privados de tirar o FGTS da Caixa, assim jogam para as mãos dos bancos privados, o projeto de casa própria, que já diminuiu e não vai ter. Outro exemplo que a gente pode ver é a questão do desemprego, aqui por exemplo, muitos bancos públicos foram fechados em cidades importantes e municípios. Então quando só tem aquele banco público naquela cidade, ele vai causar desestrutura na economia local.

 Outra questão importante é o incentivo à demissão motivada, foram mais de trinta mil bancários só na Caixa que saíram nos últimos anos, assim também no Banco do Brasil. Tivemos um exemplo concreto, quando da privatização do Bandepe, tinha três mil funcionários e foi diminuindo. O sindicato fazendo atos, fazendo movimentações na Assembleia Legislativa e os funcionários do BANDEPE defendendo a privatização. Quando o Bandepe foi privatizado demitiram dois mil bancários de uma vez só, aí vieram atrás do sindicato, alguns conseguiram ser integrados e outros não, e não conseguiram usar o dinheiro da demissão para o que eles pensavam. No governo Lula e Dilma, tivemos um avanço, o Banco do Brasil e a CEF, que já tinha mais a metade dos funcionários terceirizados, conseguimos reverter e retomar os concursos públicos.

Outro aspecto importante de ressaltar são os ataques aos direitos trabalhistas quando ocorreu a reforma trabalhista. Na convenção coletiva, por exemplo, a gente fazia homologação de todos os bancários no sindicato, hoje não faz mais, a gente perdeu essa cláusula na convenção coletiva, porque houve uma mudança na legislação trabalhista com a reforma de Temer, e continua com Bolsonaro. Também houve muitas mudanças no plano de previdência, de autogestão dos bancos públicos, aumento da alíquota no plano de saúde, extinção da participação dos funcionários no conselho de administração.  

Outro aspecto que gostaria de falar é sobre o adoecimento da categoria bancária por conta do assédio moral, a gente fez uma pesquisa aqui, há quatorze anos atrás e quando você vê uma pesquisa que foi feito aqui em 2018 pela FENAE, Federação dos Empregados da Caixa Econômica,  a constatação é que aumentou, na época a maioria do assédio denunciado era dos bancos privados, mas agora a gente vê que os públicos mudam o seu papel e a concepção quando eles tem uma política de gestão baseada nos mesmos princípios que os bancos privados, de metas, de gestão de austeridade .

Essa mesma pesquisa revela, que quase vinte por cento dos trabalhadores ativos que foram entrevistados tiveram depressão ou ansiedade. Vários bancários de todos os bancos, tomam remédio controlado.  A pressão é grande porque tem que bater as metas abusivas que os bancos exigem. Isso tem levado o adoecimento psicológico da nossa categoria, já teve vários suicídios de colegas. Agora diminuiu um pouco mais, mas na época do PDV, o primeiro PDV do Banco do Brasil, na década de noventa, teve até estudo sobre isso, vários bancários se suicidaram, que teve um um caso emblemático aqui em Recife no Banco do Brasil que o bancário que se matou dentro do banheiro da agência. Com a pandemia a pressão aumentou, as metas não diminuíram, tão trabalhando doze horas por dia atendendo mais pessoas, a Caixa Econômica tem gente que pega de sete horas da manhã e larga as sete da noite. Então, é uma tensão constante, porque todo dia é um medo de se contaminar e contaminar as suas famílias. Então, isso é muito grave. E a pesquisa mostra isso na caixa, mas isso é realidade de todos. Então o que que a gente pode concluir é que o resultado das políticas de privatização promovida pelos governos neoliberais tornou o Brasil mais pobre igual, mais injusto, apenas enriquecer uma pequena classe de empresários e de políticos. Portanto, a privatização colabora para que a sociedade seja mais desigual.  Aqui no nosso país é o capitalismo selvagem. Quem mais sofrer é a população mais pobre, com desemprego, com falta de saneamento básico, educação. A gente tem visto que tudo isso tem se agravado com a pandemia e, principalmente, a violência contra as mulheres, contra a juventude negra, que é o povo da favela. Então, o que a gente precisa dizer em alto e bom tom é que a gente precisa barrar as privatizações.

 Vamos defender o Brasil e a soberania do nosso país, lutar em defesa das empresas públicas, porque isso que é público é para todos. Então, a gente tem um lema de uma campanha que nós fizemos muito boa, fizemos audiência pública em vários municípios para conversar com todo mundo da sociedade, dos estudantes, o Clube Lojista dos os empresários locais, porque quando não tem banco naquela cidade as pessoas, o comércio também diminui, a violência aumenta. Então defender os bancos públicos e defender as empresas públicas, defender o Brasil.

Para concluir é importante reforçar a luta para por fora o Bolsonaro genocida que tem maltratado todos os trabalhadores públicos e privado. Quando você vê que aumentou o número dos desempregados, que aumentou a fome e a miséria, constata que os bancos públicos, tem um papel fundamental de fomentar e de fazer crescer o financiamento para reerguer a economia, porque banco privado não tem esse papel. Então a gente precisa melhorar a democracia, oferecer crédito, dar oportunidade para ver se a gente se ergue. Precisamos construir o que é o melhor para todos nós, que é uma nova sociedade. De igual, para igual, que respeite a diferença, que a gente possa sobreviver, onde todos tenham direito a terra, a escola, a saúde, a educação.

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