PT: sombras e luzes

Por Milton Alves*

O Partido dos Trabalhadores (PT) é o alvo de uma nova e intensa campanha de desconstrução política: após a proclamação dos resultados eleitorais, a mídia a serviço dos monopólios e bancos iniciou uma escalada narrativa sobre um suposto fracasso eleitoral retumbante do PT e do bolsonarismo nas urnas. Não aconteceu nada disso, mas o eco dessa formulação atingiu segmentos da esquerda e do próprio PT.

Para além de um necessário e rigoroso balanço eleitoral – e da verificação de seus resultados quantitativos e qualitativos – é preciso que o PT estabeleça uma tática política para o próximo período, que rompa com as ilusões das fantasmagóricas “frentes amplas” e supere a defensiva no enfrentamento ao projeto neoliberal do governo bolsonarista e da velha direita.

Se é verdade que houve um resultado eleitoral bastante acanhado em 2020, também é preciso reconhecer que o PT enfrentou nos últimos cinco anos uma operação continuada de cerco e aniquilamento político-institucional, judicial (Lava Jato) e midiático -, de desconstrução da imagem e do legado dos governos petistas. Uma campanha atroz, sem paralelo na história dos partidos políticos com atuação no país nas últimas décadas.

Toda essa torrente de pressões incide no interior do PT, provocando intentos conciliadores e o amortecimento do ímpeto para um combate de maior envergadura ao processo em curso de recolonização econômica e de mudança autoritária do regime, pelo alto, a partir do controle das instituições de estado pelo governo da extrema-direita em aliança com o establishment político e empresarial.

Nesta semana o debate provocado sobre o papel do ex-presidente Lula é um reflexo da operação que pretende o cancelamento político do maior líder de massas construído pelo PT e a domesticação completa da legenda da estrela.

Centenas de editoriais, reportagens, entrevistas com analistas – e também com apressadas lideranças petistas – martelaram a pauta da vez sobre o enfraquecimento terminal do partido e da suposta necessidade de enterrar o “lulismo” – que seria uma espécie de maldição a atormentar um futuro de mar de rosas para o PT, sem os “arroubos populistas” de defesa de um estado provedor para os mais pobres. Ou seja, de negação do lugar conquistado pelo PT na sociedade brasileira e ainda simbolizado pelo ex-presidente Lula.

O balanço imediato do resultado eleitoral é revelador da natureza dos impasses do PT e dos limites de uma condução política que alimenta ilusões e aposta tudo numa futura vitória eleitoral na disputa pela presidência em 2022, tentando empurrar o coletivo partidário para mais um atalho, uma fuga para a frente. Para evitar a dilaceração, a procura de bodes expiatórios de ocasião, é preciso vencer o imobilismo da burocracia partidária e realizar o mais amplo e vigoroso debate para ajustar a tática do PT. E firmar a identidade do partido como um instrumento político da classe trabalhadora.

Um ajuste que deverá ser feito no calor da batalha e numa conjuntura política que indica a aproximação de uma forte tempestade social nos próximos meses. O agravamento da crise econômica, o avanço sem precedentes do desemprego, a volta da fome, o fim do auxílio emergencial, o repique da pandemia de Covid e as manobras golpistas de Rodrigo Maia no Congresso, demandam uma rápida resposta do PT e do conjunto da esquerda.

Uma dupla tarefa que implica em criar as condições políticas para pôr um fim ao governo Bolsonaro e da rejeição ao engodo representado pela nefasta tese da “Frente Ampla”, uma armadilha para pavimentar mais uma saída por cima conduzida pelas forças partidárias da classe dominante, afinadas politicamente com a nova administração do imperialismo norte-americano.

*Ativista político e social. Autor dos livros ‘A Política Além da Notícia e a Guerra Declarada Contra Lula e o PT’ e a ‘Saida é pela Esquerda’ (Ambos pela Kotter Editorial).

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