Eleições na América: a convenção do Partido Democrata e a questão palestina
Retirado de Informations Ouvrières (IO), 31 de agosto de 2024
De 19 a 22, foi realizada em Chicago a Convenção do Partido Democrata Americano (DNC).
O DNC recebeu mais de 4.000 delegados para nomear a candidata Kamala Harris para as eleições presidenciais de 5 de novembro, após a retirada do presidente norte-americano em Joe Biden. Ela confrontará assim Donald Trump, o candidato do Partido Republicano.
Estavam presentes na convenção trinta delegados Uncommitted (não-comprometidos), não compromissados com a candidatura de Biden e agora de Harris, devido ao seu apoio ao genocídio do povo palestino.
“Delegados não-comprometidos foram mandatados por 700 mil americanos durante as primárias democratas para exigir um cessar-fogo em Gaza e o fim das entregas de armas a Israel.”
Dentro e fora da convenção, ocorreram inúmeras iniciativas, com o apoio da DSA (Socialistas Democratas da América). IO esteve lá e apresenta esta reportagem.
ENTREVISTA COM CHERRENE HORAZUK, EX-PRESIDENTE DO SINDICATO DE FUNCIONÁRIOS DA UNIVERSIDADE DE MINNESOTA
Até que ponto os sindicatos estão participando na manifestação de hoje?
Vários sindicatos participam na manifestação de hoje. Estes são principalmente membros comuns dos sindicatos, em oposição aos líderes sindicais oficiais. Alguns sindicatos menores apoiaram a marcha, como o Starbucks Workers United, mas são principalmente os membros comuns que estão aqui hoje.
Kamala Harris declarou num comício, em resposta aos manifestantes pró-palestinos que interromperam o seu discurso, que eram a favor da eleição de Trump. Como você reage a esse comentário?
Kamala Harris, que faz parte da administração Biden, apoiou um genocídio em Gaza desde o ano passado e forneceu ajuda militar a Israel em mais do que qualquer outro país. Esta administração, Biden e Kamala Harris, tem sangue nas mãos. Se quiser obter o apoio dos cidadãos nas eleições, terá de provar que seguirá um caminho diferente. Não podemos dizer o que Trump fará no conflito Palestina-Israel. Tenho certeza de que não será bom, mas sabemos o que o presidente Biden e o vice-presidente Harris já fizeram.
ENTREVISTA COM BRANDON MANCILLA, DIRIGENTE DA REGIÃO 9A DO UAW (SINDICATO DE TRABALHADORES DE AUTOMÓVEIS)
Você iniciou a Coalizão de Cessar-Fogo dos Trabalhadores Americanos.
Junto com o Sindicato dos Correios, o Sindicato dos Elétricos, a Associação dos Comissários de Bordo e muitos outros sindicatos, sim.
Você poderia explicar por quê?
O movimento sindical desempenha um papel vital no desenvolvimento de políticapró-trabalhadores e pró-paz neste país. Você sabe, em tanto que consciência dos Estados Unidos em muitos aspectos, o movimento sindical tem um papel enorme a desempenhar na promoção da paz e do cessar-fogo. Mais recentemente, seis dos filiados à nossa rede sindical, incluindo o UAW (representando mais de 9 milhões de membros sindicalizados nos Estados Unidos – Nota do editor), manifestaram-se a favor de um embargo de armas.
Você também participa da campanha “Outra Bomba Não”?
Sim, apoiamos a campanha “Not Another Bomb”. A carta que enviamos à administração Biden exige essencialmente um embargo de armas e a proibição do envio de outra bomba, a fim de alcançar um cessar-fogo.
Após o lançamento do apelo, a administração Biden continuou a apoiar Israel. Quais são as próximas medidas?
Continuar com a pressão. A campanha de Kamala Harris deve compreender que a sua eleição depende realmente de encontrar uma solução para muitos eleitores, sejam eles não-comprometidos, jovens, americanos de origem palestina ou pessoas conscientes. Eles querem que as coisas aconteçam. E todos queremos evitar outra administração Trump. A administração e a campanha do Sra. Harris devem fazer progressos nesta questão.
Os sindicatos estão apelando à participação em manifestações de cessar-fogo nas ruas?
Temos membros no local, com certeza. Há muitas pessoas que fazem parte do DNC e também do processo.
ENTREVISTA COM BENJAMIN TELLER DA VOZES JUDAICAS PELA PAZ
Você pode nos explicar o que o JVP faz contra o genocídio do povo palestino?
Hoje estamos aqui com milhares de nossos companheiros. Esta é também uma marcha liderada por ativistas negros e palestinos. Defendemos um embargo imediato de armas a Israel. Os Estados Unidos enviam bilhões de dólares em bombas, armas e financiamento para apoiar o genocídio do povo palestino que já matou mais de 40.000 pessoas, na sua maioria mulheres e crianças, em Gaza. Dinheiro que deveria ser usado para habitação, para educação, emprego e cuidados de saúde. Em vez disso, levou a um aumento da militarização, a um aumento dos conflitos regionais, puramente para servir os interesses dos ricos e poderosos. E por isso estamos aqui para defender veementemente um embargo às armas, o fim da ocupação israelense e do apartheid, e o fim do apoio americano a Israel.
Você pode explicar qual é a diferença entre anti-semitismo e anti-sionismo?
Israel é um estado, certo? Um estado não tem direitos em si. Existe um estado para proteger os direitos das pessoas e, atualmente, Israel é uma potência que ocupa a Palestina, o que acarreta obrigações particulares à luz do direito internacional. Israel tem obrigações muito estritas para proteger os direitos dos palestinos, mas não, comete genocídio e limpeza étnica. Podemos, portanto, denunciar as ações deste estado e as ações dos líderes do Estado de Israel, que são crimes contra a humanidade, não porque sejam judeus (semitas), mas porque são criminosos de guerra.