Um teste para o PT, há 8 meses das eleições
Roberto Salomão*
No último sábado, 5 de fevereiro, houve manifestações em muitas cidades do país em repúdio ao bárbaro assassinato do jovem congolês Moise Kabaganbe, em 24 de janeiro, no Rio de Janeiro. Um desses atos ocorreu em Curiitba.
A partir das 16 horas, cerca de 200 manifestantes, dos movimentos negros, outros movimentos sociais, sindicalistas e partidos, concentram-se no Largo da Ordem, em frente à igreja católica, e fizeram uma manifestação pacífica, denunciando o racismo estrutural no Brasil e o genocídio do povo negro. Entre os manifestantes, dois vereadores do PT, ambos negros, Renato Freitas e Carol Dartora.
Na igreja, ocorria um culto. Quando este terminou e as pessoas saíram, o padre veio até a entrada, pediu que os manifestantes se retirassem e fechou a porta principal da igreja. Os manifestantes, então, entraram pela porta lateral, desdobraram algumas faixas e cartazes, fizeram algumas falas. O padre chegou a chamar a Guarda Municipal que, ao chegar, não viu motivos para intervir.
Porém, foi o que bastou para que a mídia conservadora se fartasse. O tom geral das notícias era “Apoiadores de Requião [candidato a governador apoiado pelo PT] e Lula [candidato do PT a presidente] impedem missa em Curitiba”. O que redundou em muita intriga, muitos pedidos de informação e até, lamentavelmente, em declarações de petistas condenando a “invasão” da igreja e em particular, a presença do vereador Renato Freitas.
Resumindo a história: não houve interrupção da missa, que já havia terminado; não houve profanação do templo, não houve nenhum desrespeito ao sentimento religioso dos fiéis, não houve nenhum ato de violência. O que houve, sim, foi uma grosseira manipulação das informações, o que não é de se estranhar. Mesmo oito meses antes das eleições, o fato já indica o que pode ser esta campanha.
O episódio me fez lembrar (e a muitos outros) momentos em que as igrejas serviram de palco para manifestações políticas: a missa em memória de Alexandre Vanucchi Leme, assassinado pela ditadura, em 1973; ou o culto ecumênico para Vladimir Herzog (morto sob tortura no Doi-Codi), em 1975; ou incontáveis reuniões políticas realizadas em igrejas e seminários por todo o país.
Mas leva a pensar também em como o PT reagirá às inevitáveis provocações e manipulações desta campanha, que já começaram. O que o PT deveria ter dito sobre o ocorrido em Curitiba é: Mentira! Estão manipulando os fatos! Militantes, fiquem atentos, desconfiem!
O que mais precisa acontecer para deixar o PT escaldado? Depois do “mensalão” e da Lava Jato, depois do golpe do impeachment e da prisão de Lula, depois das “fake news” de Bolsonaro, alguém tem dúvidas sobre até que ponto poderão chegar para destruir o PT e a candidatura Lula?
Curitiba, 5 de fevereiro de 2022, foi um teste. Que ninguém tenha dúvidas: quanto mais frágil for a resposta do PT, mais implacáveis os ataques e maior o aturdimento da militância.
*Roberto Salomão é membro da Executiva Estadual do PT/Paraná e do Comitê Nacional do DAP.