Bolsonaro, Datafolha e a esquerda que continua esperando Godot…
Por Milton Alves*
A pesquisa revelou que Bolsonaro consolidou o que tinha (cerca de 30%) e avançou um pouco mais impulsionado pelos efeitos temporários do auxílio emergencial de R$ 600 reais. Portanto, nada fenomenal.
A pesquisa do Datafolha divulgada na sexta-feira (14) em que o presidente Jair Bolsonaro aparece com o índice de 37% de ótimo e bom de avaliação causou perplexidade, surpresa e até pânico em alguns setores de esquerda.
Além disso, a partir da prisão de Queiroz em meados do mês de junho, o governo do presidente Bolsonaro empreendeu quatro movimentos para criar uma muralha de autoproteção e blindagem de seu mandato: Intensificou a aliança com o bloco parlamentar do Centrão no Congresso; apazigou a relação com o comando das instituições de estado – Congresso e STF – controlados pela velha direita; conteve os seus radicais (gabinete do ódio, demissão de Weintraub e expurgo de olavistas do MEC) e continuou com a narrativa de jogar o ônus dos efeitos econômicos da pandemia de Covid-19 nas costas de governadores, prefeitos e da oposição em geral.
O movimento de Bolsonaro e dos generais palacianos também significou um freio de arrumação, uma diminuição no ritmo da escalada de enfrentamento para alcançar o objetivo de estabelecer as bases de um governo abertamente autoritário e policial.
Se no mês de maio o governo parecia acossado e perdendo apoios de setores da sociedade, neste momento o governo da extrema-direita retoma certo fôlego político e busca de forma demagógica estabelecer pontes com camadas mais pobres da população, inclusive na região Nordeste, auxiliado pela ajuda econômica emergencial.
A velha direita – representada principalmente pelo DEM, PSDB, MDB – reforça o pacto de convivência com o governo Bolsonaro, o que sepultou o ilusório projeto de uma “frente ampla” preconizada por alguns setores da esquerda.
Por sua vez, a oposição de esquerda – e seus principais partidos – PT e PSOL – continua apostando em ações fragmentadas no parlamento e sem uma “pegada” mais forte na responsabilização de Bolsonaro pelo desastre sanitário e as mais de cem mil mortes de brasileiros pelo novo coronavírus. Além disso, a campanha pelo Fora Bolsonaro praticamente foi congelada após o início das articulações eleitorais.
Para a esquerda reocupar espaço político e disputar o terreno perdido, a alternativa é uma aposta no enfrentamento direto e duro com o governo bolsonarista e sua política neoliberal, ampliando a denúncia das mazelas impostas ao povo pobre, cobrando com firmeza os crimes perpetrados em plena pandemia contra os direitos dos trabalhadores e atuando com nitidez em defesa de um programa democrático-popular e anti-imperialista. Ou seja, mobilizar as energias dos setores populares para pôr fim ao governo de destruição do país. Não há outra alternativa para a esquerda: É lutar ou ser batida, derrotada.
Na obra do irlândes Samuel Beckett “Esperando Godot” os personagens Vladimir e Estragon esperam por um Godot que nunca chega ou chegará. Uma expectativa vazia que flutua no tempo e no espaço. A metáfora beckettiana pode ser usada como um recurso para demonstrar as ilusões ainda existentes em amplos setores na esquerda que acreditam que o governo Bolsonaro será vítima apenas de seus próprios erros. E quem sabe em 2022 um “Godot” não chegará para nos tornarmos vitoriosos. Uma ilusão perigosa!
*Ativista político e social. Autor do livro ‘A Política Além da Notícia e a Guerra Declarada Contra Lula e o PT’.
AS ÚLTIMAS PESQUISAS
As análises da últimas pesquisas que apontam crescimento da aceitação de Bolsonaro e queda significativa na sua rejeição apontam sempre as seguintes causas para estas variações havidas :
– os 600,00 que chegam a 40% dos lares brasileiros .
– a mudança de comportamento Bolsonaro em relação as suas declarações de ódio.
– a não divulgação pela imprensa da atuação parlamentar da esquerda especialmente neste momento.
É lógico que tudo isto influencia estas variações havidas nas pesquisas.
Mas eu pergunto :
E a adesão as políticas de frentes amplas por parcelas significativas da esquerda e que nunca questionaram a viga mestra deste governo que é o seu projeto neoliberal ?
E a recusa do PT em armar politicamente os trabalhadores e a parcela mais pobre da população durante seus quatro governos ?
E nossa atuação nas redes sociais onde estamos levando um baile dos bolsinarista ?
– E o abandono dos sindicatos e da periferi sea depois que Lula se elegeu presidente pela primeira vez.
Não pretendo fazer uma análise conclusiva mas levantar estas questões pra a nossa reflexão.
Só para dar alguns exemplos :
Enquanto Lula fala durante duas hora em entrevista ao 247 (pouquíssimas pessoas assistem) Bolsonaro pública inúmeras mensagens sucintas que seus seguidores repassam rapidamente.
A quase totalidade dos 100 oradores do ato ” Direitos Já ” não citou o neoliberalismo de Paulo Guedes e suas consequências e conseguiram o que queriam um Bolsonaro ” amansado ” que na verdade beneficiou a ele.
No episódio do Quilombo Campo Grande ficou parente que o MST armou ideológica e politicamente os assentados ( o que o PT não fez com seu eleitorado ) e a importância das redes sociais o que foi muito ressaltado pelo pessoal do assentamento.
COMO EXPLICAR AS ÚLTIMAS PESQUISAS !?
Mesmo sendo repetitivo.
– Os 600,00 reais que chegam a milhões de lares ?
– A falta de informações sobre as ações da esquerda institucionalizada ?
– O Bolsonaro ” paz e amor “?
Ou algo mais explica as últimas pesquisas ?
Quem sabe???
-Política de frentes amplas em que a esquerda não se diferencia da direita.?
– Falta de maior esclarecimento e denuncia do plano econômico neoliberal de Paulo Guedes e seus desdobramentos.?
– Afastamento dos sindicatos e da periferia pela esquerda depois da eleição de Lula ?
– Falta de políticas de amadurecimento ideológico e político do eleitorado ?
– Maior importância dada a luta parlamentsr em detrimento das lutas sociais ?
– Falta de perspectiva ?
Só não vale dizer que o povo é burro como dizem muitos ou que estamos num beco sem saída como dizem outros