Maia não!
Intervenção de Markus Sokol na reunião do Diretório Nacional do PT em 20 de janeiro
As últimas reuniões da Executiva e do Diretório Nacional do PT, quinta e sexta-feira, foram dominadas pela discussão do apoio às candidaturas de Maia (DEM) e Eunício (PMDB) às presidências das mesas da Câmara dos Deputados e do Senado Federal. A questão marcou o Ato de Lançamento do 6o. Congresso Nacional na quinta, onde gritos “Maia Não!” apareceram no público junto a cartazes “Maia Não, Chega de Conciliação!” dos Militantes pela Reconstrução do PT.
Ao final, o DN adotou, por 45 a 30 votos, a resolução que “ratifica” as negociações em curso e remete às bancadas “por consenso ou maioria”, a posição final de voto “em torno dos compromissos” propostos aos candidatos. O que agora está causando grande polêmica entre militantes, quadros e parlamentares do PT, no sentido de pressionar as bancadas a não votar em golpistas.
No DN, a resolução vitoriosa foi a do presidente Rui Falcão que, após debate no plenário, foi sustentada na defesa final pelo líder na Câmara, deputado Zarattini, e pelo tesoureiro Márcio Macedo, contra a proposta apresentada pela deputada Margarida Salomão “contra transigir com golpista”, sustentada ao final pelo senador Lindbergh Farias e por Markus Sokol, cuja intervenção reproduzimos abaixo.
Nenhuma confiança nos golpistas
Companheiros e companheiras, vejo argumentos corretos nas duas resoluções apresentadas, defendendo a proporcionalidade e outras questões.
Mas começa que não posso concordar com a conclusão do projeto do presidente Rui de jogar a decisão final para as bancadas, por consenso ou maioria. Não vai ter consenso e é impossível um argumento racional impor o voto em golpistas. Eu concordo com o que Lula disse ontem – a direção tem que dirigir -, e deixar para a bancada uma questão como essa neste momento, é perigoso e desestabilizador do partido, se não pior.
Em segundo lugar, como é possível pregar confiança num acordo de procedimentos no parlamento com os golpistas, assim “no fio do bigode” (porque é assim, não se trata de um projeto de lei submetido a voto, ou algo assim)? Os golpistas que rasgaram a Constituição e atropelaram todos regimentos nas duas casas, vão agora respeitar procedimentos, por que? Quero ver explicar isso a uma plenária com a militância…
Não estamos discutindo outra coisa, como dizem aí nos corredores, “melhor, então, renunciar aos mandatos ou às Comissões”, não, estamos discutindo a proporcionalidade nas mesas que existe “em tese”, mas não é garantida, dependeria de acordo de voto em golpista.
A companheira Benedita reclamou “mas composição, fizemos a vida inteira”. Companheira, com todo respeito, será que não era o caso de reavaliar algumas “composições” que fizemos? Será que não é o caso pensar melhor, antes de fazer algumas?
O caso do PCdoB é didático. O seu oportunismo é conhecido, “ocupam espaços” em qualquer governo de qualquer partido. Mas é um partido de matriz stalinista, faz essas coisas e continua lá. E não é um partido de massas como o nosso, por isso muita atenção para as conseqüências.
Um problema de fundo é a nova situação que se criou. A classe dominante, como aliás dizem os mais lúcidos da maioria, se uniu no maior bloco da história recente, para levar o regime até 2018, unido por uma agenda reacionária contra os direitos. A maioria dos atuais parlamentares reflete isso, a voz dos donos. E, em caso de dúvida, está lá a Operação Lava-Jato do Judiciário para trazê-los na rédea curta!
Assim, tem ainda menos serventia certos “espaços”. De que serviu frente ao impeachment, por exemplo, ter o Vice-Presidente do Senado antes eleito, agora, ali onde o processo do impeachment foi julgado?
Realismo, meus companheiros, chegar de nos fazer ilusões! No auge da resistência ao impeachment, nossos parlamentares estavam lá contando votos que já não existiam, e nós com eles, o que desorientou a luta.
Vejo aqui o líder na Câmara abatido, justificando os cargos nas mesas para “minorar a reforma da Previdência”.
Mas nós queremos, junto com os sindicatos e o povo, enfrentar e derrotar a reforma da Previdência. Só que isso não se faz com cargos na mesa. Isso se pode fazer do lado de fora, nas ruas e em greve, e daí para dentro do parlamento. Aí não há mesa que resista à nação na rua.
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