Diálogo Petista – 8 HORAS DE LIVRE DEBATE
Vindos de 12 Estados do país, com todas as dificuldades de transporte nesta época, 105 militantes auto-financiados se reuniram no dia 13 de dezembro, na sede da Apeoesp, em São Paulo.
Após 8 horas de discussão de questões internacionais e nacionais, de ordem política, sindical, ambiental e democrática, o Encontro emendou e adotou por unanimidade uma Declaração proposta pela Mesa, bem como iniciativas para a luta de classe, moções e emendas para o 4º Congresso do PT saídas do debate (abaixo).
A Mesa que abriu a discussão era composta por João Moraes (coordenador da FUP), Adriano Diogo (deputado, PT-SP), Markus Sokol (DN-PT), Gilney Viana (DN-PT) e Julio Turra (membro da Executiva da CUT), oriundos de diferentes correntes, como o plenário onde havia quadros de praticamente todos os campos políticos do PT.
O 2º Encontro foi um avanço em relação ao ano anterior, pela maior representatividade alcançada graças a um agrupamento mais amplo facilitado pelas campanhas unitárias do último período pela proibição de demissões, pela retirada do Haiti, pelo monopólio do petróleo e por candidatos próprios do PT a governador.
Uma mostra que está apenas começando a defesa dos ideais fundacionais do PT, contra a degeneração que o PED fez ressaltar.
Sokol (DN, O Trabalho): O momento é menos pra balanço de PED, que cada um faz, e mais prá ver o que fazer. São animadoras as eleições na Bolívia e Uruguai, mas o traço da situação é mais tropas dos EUA no Afeganistão, com a ameaça da bolha especulativa alimentada pelo salvamento dos bancos – a crise não acabou.
É preciso proteger a nação com outra política: recuperar todo o petróleo, fazer a reforma agrária, centralizar o câmbio e acabar com o superávit primário.
Depois de dois mandatos, onde estão as mudanças de fundo? A candidatura do PT precisa desembaraçar-se do acordo com o PMDB, e bancar candidatos próprios do PT para avançar. Discutamos iniciativas práticas.
Moraes (FUP): O debate do petróleo se dá de forma conservadora. Dos 4 projetos do governo para o Pré-Sal que tramitam no Congresso, dois ficaram iguais, o principal, do modelo de partilha substituindo as concessões, piorou na mão do deputado Henrique Alves (PMDB) que reduziu as margens, e projeto do Fundo Social melhorou mas é migalha. Somos contra distribuir royalties para os Estados.
Com nosso projeto para o petróleo (retomada do monopólio estatal) propomos formar Comitês em todos os Estados.
Tem que ter mobilização de rua de massa. Senão, mesmo o avanço na partilha, como não estabelece percentual do rendimento para o Estado (a Petrobras tem 30% da operação), pode terminar sendo definido num Edital de leilão em 1%.
Gilney (DN, Militancia Socialista): A reunião de Copenhague sobre o clima discute um compromisso de limitar a mais 2 graus centígrados o aquecimento. Mas reduzir a emissão de carbono é possível no capitalismo?
No Brasil podemos cumprir a meta só com o “desmatamento zero” na Amazônia, mas e o resto? Por isso, vejo 2010 como crise econômica e crise ecológica. A proposta de Lula surpreendeu, liquidando a Marina que se aproxima do liberalismo.
Estou por reduzir o poder do PED e aumentar o do Congresso, podendo eleger presidente do PT, mas não as chapas para o Diretório. Tem muita gente da “maioria” que não aceita hegemonia do Palácio, ainda mais o PED.
Adriano Diogo (deputado): O PT foi fundado ao fim da ditadura, reunindo correntes de esquerda sem abrir mão de suas posições.
A preocupação de FHC (Dilma não segura os movimentos), prá mim é positivo, Dilma pode possibilitar uma discussão mais próxima. O PED foi péssimo, mas tem uma reserva revolucionária dentro do PT.
Tenta-se passar a descoberta do pré-sal por acaso, mas foi porque o governo Lula investiu na pesquisa, começou a queda de braço para devolver as riquezas ao povo.
Agora, o ministro Lobão (PMDB) é símbolo não da “partilha”, mas da rapina. Se deixar a questão no Congresso… O Lula pôs o Lobão, e não o povo na rua.
A luta não acabou, mas lógico que temos que superar essa barreira das eleições de 2010.
Julio (Executiva CUT): Apresento aqui a Conferência Mundial Aberta “Contra a Guerra e a Exploração”, que se dará na Argélia, em novembro de 2010, por iniciativa do Acordo Internacional dos Trabalhadores (AcIT).
A convocatória que está nas pastas é feita por 453 lideranças de dezenas de países, inclusive 30 brasileiras, como os companheiros que estão nesta Mesa.
Entre os trabalhos que confluem para a Conferência, destaco a Comissão de Investigação Internacional que foi ao Haiti em setembro e constatou que a Missão da ONU é uma ocupação militar a serviço das grandes potências que sempre pilharam o primeiro país negro independente do mundo.
Labenet (Minas Gerais, vereador): O debate ambiental faz pensar no partido, pois a direção está cada vez mais distante da base, e não consegue mais se posicionar nas lutas do provo, como na luta pela Vale. Estamos nos submetendo à vontade do PMDB porque o governo não quis governar com o povo.
O PED é a palhaçada eleitoral direta! As lideranças se portam como coronéis. O Diálogo vem preencher um espaço, eu sempre fui da Articulação.
As proposta são estender o Diálogo em reuniões estaduais, que me disponho a organizar , e o PL do petróleo da FUP temos que levar para as Assembléias e Câmaras tirarem moção para dar respaldo.
Caçapava (CUT-RS): Eu sou militante da Ação Democrática, do CNB. O acordo com o Banco Mundial nos pega, e foi OT que levantou essa questão. Sobre o Haiti, não tínhamos a dimensão.
Combater a degeneração do PT é nosso compromisso. Agora, é importante na nossa pauta o meio ambiente. Com a defesa dos mananciais, a agricultura familiar e os quilombolas, no que o governo Lula avançou, mas não o suficiente.
O problema da precarização e terceirização estão aí, a saúde tratada como mercadoria. Então, não podemos deixar o PT degenerar e endireitar.
Moisés (calçadista, RS): Fiz a campanha pela MP contra as demissões. Na Câmara falavam que não tinha crise. O Prefeito do PT nos diz que não temos mais força, que está uma maravilha, “emprestamos dinheiro para o FMI”, que o trabalhador não passa fome, é “só uma sensação ruim”.
O PT esta mais à direita do que nunca. O que acontecendo?
Não podemos nos acomodar em nome da governabilidade. Temos que mudar a cara do PT.
Nosso candidato ao diretório foi perseguido, eu fui perseguido. Mas aqui no Diálogo encontrei pessoas como eu. Temos que ter coragem e crença que podemos mudar.
Vitor (Ceará): Represento o gabinete da deputada Raquel. Nossa avaliação é que a raiz do problema é mais profunda. Não sou otimista quanto ao alcance das reivindicações, hoje, porque o PT está imobilizado.
O PED acabou como na democracia burguesa onde as campanhas são financiadas pelas grandes empresas. Há uma degeneração muito grande, destruindo o vínculo de luta da classe trabalhadora.
O resultado dessa reflexão adiciona a pauta duas questões: Assembléia Constituinte e refor
ma política; e rediscutir o PED.
Acreditava, como militante do CNB, que o PED era um fator de democracia para o partido, mas ficou demonstrado que é um fator corruptor.
Milton Barbosa (MNU): Minha prioridade é o movimento social, “estou” petista, mas tenho certeza de que não podemos entregar o partido que construímos.
No Haiti é necessário determinadas tarefas, pois é uma simbologia dos oprimidos. As tropas do Brasil fazem no Haiti treinamento para atacar os morros no Rio.
O Estado está ausente nos morros, então a solução é colocar tropa estrangeira? Lutamos pela independência de todos [os] povos, devemos realizar a Jornada Internacional pela Retirada do Haiti (junho).
Estão privatizando o metrô, a linha que desabou demonstra a precariedade da obra para as empresas lucrarem.
Precisamos derrotar o PSDB, não podem mais que governem o Estado.