Assembleia debate organizada pelo Partido Operário Independente em 25 de setembro para receber os dirigentes da DSA em Paris

Publicamos abaixo trechos das falas de Ashik Siddique, copresidente da DSA (Democratas Socialistas da América), Cara Tobe, membro do seu Comitê Político, e Jana Silverman, membro do Comitê Internacional.

O DSA foi fundado em 1990 como resultado da fusão de diversas organizações de esquerda que participavam da política eleitoral. A DSA era então uma organização pequena. Naquela época havia entre 5.000 e 10.000 pessoas. Mas desde 2016-2018, graças à campanha de Sanders [candidatura de Bernie Sanders a presidente pelo Partido Democrata), crescemos muito, especialmente nos quatro anos após a eleição de Donald Trump. O DSA não faz parte do Partido Democrata, somos independentes. Mas nossos candidatos não se apresentaram pelo DSA, mas pelo Partido Democratas, dado o modo de funcionamento das eleições que torna muito complicado ser candidato independente ou sem partido.

Tentamos representar as reivindicações às classes dominantes. Temos mais de 200 seções nos Estados Unidos, em quase 50 Estados. Não somos realmente um partido, mas sim um protopartido com a aspiração de ser um partido independente. Estamos especialmente focados nas áreas locais e estaduais, especialmente no Estado de Nova York, um dos mais populosos dos Estados Unidos. Temos um bloco de membros do DSA no Senado que agora funciona de forma mais independente e nos permite agitar contra as políticas do Partido Democrata.

Os democratas não foram capazes de cumprir suas promessas nem de impedir que a extrema direita ganhasse mais poder. O DSA é capaz de agitar e avançar as demandas da classe trabalhadora, principalmente na área ambiental. Organizamos os trabalhadores, apoiamos os sindicalistas, os militantes, para que tenham mais peso nos debates políticos. Nossa organização é financiada principalmente com contribuições de afiliados: ser membro da DSA significa pagar contribuições ao partido, para apoiar sua organização. Vivemos num país onde a classe dominante financia um dos seus dois partidos para que possam aplicar o seu próprio programa. Não aceitamos dinheiro de empresas. O partido é financiado exclusivamente com o dinheiro das cotizações, e é uma grande diferença.

Estivemos acompanhado a campanha do voto “não comprometido” (uncommitted), que tem sido a expressão da oposição à administração Biden, que permite o genocídio em Gaza que já dura há um ano. Nos manifestamos desde o princípio, não nos centrávamos diretamente na campanha presidencial. Não há candidato verdadeiramente de esquerda, como houve antes com Sanders. Não pensávamos que pudesse haver uma forma de nos situarmos nesta campanha, mas com o apoio dos companheiros palestinos no Estado do Michigan, um Estado com uma enorme população palestina e muçulmana, tornou-se claro que uma grande parte da população daquele Estado estava descontente com os Democratas. E assim, neste Estado, tivemos a oportunidade nas Primárias de votarmos “não comprometidos”, dizendo “não apoiamos nenhum candidato”. A ideia era: “Se te preocupa o que ocorre na Palestina, vota Uncommited”. Em poucas semanas, um mês antes das Primárias, os nossos companheiros das diferentes seções do DSA foram de porta em porta para promover a ideia de que não era obrigatório votar em Biden, de que se podia votar Uncommitted e dizer a Biden que, se quiser nossos votos, tem que deixar de apoiar o genocídio em Gaza. Esperávamos talvez uns 10.000 votos, e na realidade foram 10 vezes mais. No final, não vimos qualquer mudança na política de Biden e a campanha Uncommitted exigiu não só um cessar-fogo, mas também uma desescalada total na região, ou seja, um embargo das armas dirigidas a Israel, porque, obviamente, as armas resultarão em mais bombardeios em Gaza.

A outra área em que o DSA luta pelos direitos dos palestinos é a dos sindicatos. Porque na atividade militante da DSA, organizamos nossos trabalhos. Recentemente, sete grandes sindicatos nos Estados Unidos chamaram a um embargo imediato de toda a ajuda a Israel. Isso nunca aconteceu. A classe operária organizada tornou isso possível e não o teria sem o trabalho da DSA.

Falando de movimento operário, é interessante observar que em um momento em que tanta gente está desiludida com os partidos políticos, com a política, haja tanto entusiasmo no movimento operário estadunidense. No ano passado ocorreram 5.000 greves, o número mais elevado desde a década de 1970, e 25 milhões de dias de trabalho foram perdido E esta atividade militante não ocorre apenas entre os trabalhadores industriais, mas também entre os trabalhadores da Starbucks e os universitários. Há também profissionais de saúde que arriscaram as suas vidas para garantir que o mundo inteiro receba a vacina contra a Covid. E todos nos Estados Unidos estão fartos das desigualdades que fazem com que os salários estagnem, enquanto os diretores executivos enriquecem cada vez mais. Embora os trabalhadores não tenham absolutamente nenhuma voz no mundo do trabalho, não têm direito a férias remuneradas ou licença médica. Por isso, 71% dos americanos são a favor dos sindicatos. E tivemos a oportunidade de organizar sindicatos, de organizar os jovens nos restaurantes, nos cafés, nas universidades, como nunca antes, e à margem da burocracia sindical. Muitos integrantes do DSA entendem que quando se luta no sindicato não se trata apenas de pão e salário. É também uma luta política. Nos Estados Unidos temos leis muito antisindicais. É por isso que pressionamos tudo o que podemos para que o governo americano permita justiça no local de trabalho, para que tenha mais espaço político para se criar sindicatos, para fazer greve, porque pensamos que é impossível vencer, que não é possível ter uma mudança real na sociedade, se não damos mais poder aos trabalhadores.

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