“Eles não conseguirão nos parar!”
Washington: Cupula da OTAN e Contra-Cupula Pela Paz – PARTE 3/3
Texto publicado no jornal francês Informações Operárias, nº 816
A palavra a Nathan Gibbs, Secretário de Organização do Comitê Internacional dos Socialistas Democráticos da América (DSA) e copresidente do Subcomitê Antiguerra.
Como o DSA contribuiu para a mobilização dos estudantes em defesa da Palestina?
Fizemos uma contribuição importante, mas eu não diria que desempenhamos um papel de liderança. Foi um movimento de massa dos estudantes, liderado por organizações palestinas, como a Students for Justice in Palestine. No entanto, nossas seções de jovens do DSA eram muito ativas em vários campus. E nossas seções locais, como a minha, em Nova York, fizeram uma contribuição significativa em termos de apoio material.
Em várias ocasiões, na Universidade de Nova York, na Universidade da Cidade de Nova York e em Columbia, esses acampamentos foram invadidos pela polícia e centenas de estudantes foram violentamente presos. Muitos bens foram confiscados. Sempre que isso acontecia, nós estávamos lá para dar apoio aos estudantes presos, para que, quando saíssem da prisão, soubessem que não estavam sozinhos. Estávamos lá para dar suporte e informá-los. Ajudamos a coordenar a representação legal em alguns casos. E, talvez o mais importante, ajudamos a fornecer materiais para manter os acampamentos em funcionamento.
Em Columbia, a polícia realizou várias batidas. Ajudamos a reinstalar o acampamento imediatamente, no mesmo dia. Obviamente, isso exige muito equipamento e planejamento. Por exemplo, meu companheiro Amir e eu fomos à Costco, uma grande loja dos EUA. Compramos barracas e coberturas externas e as entregamos, nesse caso, ao acampamento da Universidade de Nova York. Alguns camaradas também fizeram um trabalho extraordinário documentando inúmeras experiências e ajudando a coordenação com várias outras organizações. Eu diria que fizemos uma contribuição importante, mas foram as organizações palestinas e as organizações estudantis palestinas que assumiram a liderança.
Algum dos estudantes foi punido pela administração da universidade?
Sim, alguns foram presos pelo Estado, o que a universidade permitiu que acontecesse. Eles receberam a polícia no campus. Não sei se você sabe que um tiro foi disparado dentro de um dos prédios estudantis. Eles também usaram munição explosiva, a chamada “munição de controle de multidões”. Foi uma experiência difícil para alguns. Vários alunos foram expulsos da universidade por causa de suas atividades. Acho que principalmente os alunos da Barnard foram vítimas de expulsão, inclusive aqueles que foram vítimas de um ataque com armas químicas realizado por ex-soldados do exército israelense no campus. Esses soldados foram tecnicamente impedidos de entrar no campus, mas depois foram vistos lá e, até onde sei, não sofreram nenhuma outra consequência por parte da administração. Já os alunos que foram vítimas desse ataque com armas químicas, em alguns casos, foram expulsos por suas atividades organizativas.
A arma química, aliás, é chamada de skunk (uma solução à base de água com um odor extremamente nauseante; o cheiro é comparável ao de esgoto ou carcaças de animais em decomposição. É pulverizada por canhões de água). Ela é usada pelas forças armadas israelenses contra os palestinos e agora está sendo usada contra os estadunidenses que protestam e apoiam os palestinos, por ex-soldados israelenses, no campus da Universidade de Columbia.
Vários estudantes que participaram de protestos nos campus da Universidade de Columbia e da CUNY (Universidade da Cidade de Nova York) foram acusados de crimes. Até o momento, as acusações contra os alunos da Columbia foram retiradas. Entretanto, as acusações de crime contra os alunos da CUNY ainda não foram retiradas. Essa disparidade tem relação com a classe social dos alunos que frequentam essas universidades. Os estudantes da CUNY geralmente vêm de origens mais populares do que os alunos da Columbia. Mas devo dizer que nada disso teve qualquer efeito dissuasivo, que todos aqueles que, pelo que sei, sofreram consequências por sua atividade foram apenas pressionados, não dissuadidos. Acredito que todos os que participaram desse movimento continuarão sua atividade com força. A situação é muito animadora nesse aspecto. Eles não conseguirão nos parar.