1º de Maio de 1980: um depoimento
Por Regina Lúcia dos Santos*
Dia 1⁰ de Maio de 1980, fui para o ato em São Bernardo; quando cheguei ao Paço Municipal pensei que eu não sairia viva dali, o Paço completamente cercado por soldados do Exército, a subida pra vila Euclides fechada por um paredão duplo de soldados. Atrasada para a missa na matriz, fui pra lá na hora que já estava acabando. Resolvi esperar uma parte da passeata passar para me incorporar à caminhada, quando calculei que umas 5 mil pessoas já haviam passado, entrei na passeata e seguimos pro estádio da Vila Euclides. Helicóptero com o comandante do II exército sobrevoando a passeata com as portas abertas e a metralhadora apontada para baixo. Chegamos ao passo já não havia mais nenhum soldado, na vila Euclides éramos mais de 60 mil mulheres, homens, crianças gritando contra a ditadura. A repressão cortou a energia do estádio, ficamos sem som mas o ato aconteceu, apesar do Lula (presidente do Sindicato dos Metalúrgicos) estar preso, com as pessoas falando no ato e a gente repetindo para os discursos se propagarem em ondas. 1⁰ de Maio sempre foi dia de luta.
*Regina Lucia dos Santos é geógrafa, especialista em educação para as relações étnico-raciais, educadora popular, coordenadora estadual do Movimento Negro Unificado SP, integra a Marcha de Mulheres Negras de São Paulo, é colaboradora da Amparar-Associação de Amigos e Familiares de Presos.