Depois da reeleição de Dilma: uma 1ª reflexão preparando o encontro nacional do Diálogo
Markus Sokol
Na noite da vitória, em algumas capitais estávamos lá, junto com companheiros e companheiras que se juntaram no apoio a candidata do PT, alguns militantes, outros que despertaram para a luta. Nos identificamos plenamente com nesta que foi uma vitória da militância para a qual contribuímos desde o começo, agindo como o PT agia.
Os candidatos a deputado que apoiamos, sem desprezar a eleição, se engajaram no Plebiscito Popular da Constituinte, estiveram nas plenárias, nas ruas e na organização das urnas. Um enorme trabalho de mobilização que também ajudou a trazer para a campanha de Dilma muitos jovens que saíram à rua em junho de 2013.
Então, na noite da vitória sabíamos o que comemorar! Ainda mais que, coincidência, na fala da vitória, Dilma destacou a “primeira” reforma política, através de um plebiscito, o qual deveria incluir a convocação da Constituinte Soberana e Exclusiva, nossa opinião e da maioria dos 8 milhões de votantes do plebiscito popular.
Agora, a discussão desta “1ª reforma” está aberta pela presidente da nação reeleita.
A Constituinte ainda mais necessária
Mas não será fácil. A candidata do PT ganhou inequivocamente o pleito, mas a bancada do PT recuou 20% no Congresso Nacional, sem qualquer proporção com a redução relativa de 7% da votação presidencial.
Não é só o PT. Segundo o DIAP, este é o congresso “mais conservador desde 64”, com 27% mais de empresários, 23% mais ruralistas e 44% menos de sindicalistas. O que só agrava o fosso entre estas instituições e o povo, aparecido em junho de 2013, justo a causa da urgência da Constituinte!
Esse Congresso fará reforma agrária nem desmilitarizará as polícias, se é que não vai terceirizar a mão-de-obra e travar as demarcações de terra indígenas e quilombolas!
Por que chegamos aí?
Esta é uma questão para o Encontro aprofundar.
Com certeza, em parte, é pelas regras eleitorais que não cansamos de explicar no Plebiscito: são cada vez mais elitizantes devido ao crescente financiamento empresarial, devido ao voto nominal e a desproporção da representação dos Estados, além do senado oligárquico.
E em parte também, pela ferocidade com que a reação se lançou este ano para “tirar o PT” do governo, num conluio despudorado com a mídia, sintonizado na ofensiva imperialista para retomar posições perdidas no continente – por ora, detida na Bolívia e no Uruguai em processos eleitorais.
Mas isso não pode explicar automaticamente o PT perder nos bastiões do “cinturão vermelho” em São Paulo e nos grandes centros: Aécio do PSDB ganhou em 53 dos 89 municípios com mais de 200 mil eleitores, e também em 100 dos 179 municípios com de 75 mil a 200 mil eleitores, deixando a Dilma do PT na condição de líder em 3.410 dos 5.297 pequenas cidades menos de 75 mil eleitores (FSP, 27.10).
Política em questão
Algo está errado na política do PT. Ela chegou a um limite, no contexto da crise capitalista que estreita as margens de manobra dos governos.
Malgrado as conquistas populares dos últimos anos, o governo federal segue racionando as verbas dos serviços públicos repudiados em junho de 2013, devido à prioridade dada ao superávit primário para pagar os bancos – que o digam prefeitos, como o da endividada S. Paulo, ou o governador do “falido” Rio Grande do Sul!
Também, o baixo desemprego, para um partido de trabalhadores, não pode esconder a desindustrialização dos últimos anos. Só este ano são 243 mil demissões na indústria, apesar da montanha de desonerações em favor da “competitividade” dos patrões que embolsam e nada garantem, ao invés da defesa da industria nacional pela derrubada dos juros e a centralização do câmbio. O mau humor em setores operários, mesmo votando no PT, não vem só da mídia.
Por fim, é fato que o PT não defendeu seus dirigentes injustiçados pelo STF na Ação Penal 470, questão que ficou na mídia por anos, e ainda repetiu, se não ampliou nesta eleição o leque de “aliados” corruptos e odiados com os quais se confunde aos olhos de setores populares, especialmente jovens. Qualquer acusação, falsa ou verdadeira, cola, até porque se sucedem casos de petistas com a boca torta de fumar o cachimbo dos outros.
Uma oportunidade para agir
Vencemos, porque os trabalhadores no grosso souberam escolher o melhor cenário para continuar a luta. Rechaçaram falsas saídas e candidatos “alternativos” no 1o turno e, no 2o turno, apesar da elevada abstenção, recusaram a pregação do voto nulo e branco que combatemos, inclusive a incompreensão de companheiros da luta do Plebiscito sobre o que estava em jogo.
Vencemos numa situação extrema, é verdade, mas que abre uma oportunidade.
Nós, que agrupamos no PT para agir como o PT agia, devemos ver a oportunidade:
O Plebiscito Popular colocou a proposta da Constituinte com força na cena. A fala de Dilma reeleita abre um debate nacional. Um combate de massa, nas ruas, é hoje possível – há tempo é necessário! -, para concretizar uma Constituinte.
Isso religa de um modo o PT aos movimentos populares e sindicatos. Isso atravessa todas tendências do PT. Aliás, atravessa o carcomido sistema de direção do PT – o PED que tanto criticamos por reproduzir o sistema político corrupto que queremos reformar. Os efeitos “internos” são imprevisíveis.
Mas nada está ganho.
Já as togas do STF se mexem para ditar uma reforma. O PMDB do “aliado” presidente do Senado, Renan, opõe ao plebiscito um referendo (“deixa que meu senado reforma e o povo que pegue ou largue”).
À luta e ao debate! Só uma Constituinte convocada em plebiscito fará uma real reforma política!