Diálogo Petista 30
RUMO AO ENCONTRO DO DIÁLOGO PETISTA
"O povo que espera de Dilma uma vida melhor,
vai ter que lutar"
Passado o 2º turno, começa de fato a preparação do Encontro de Março, convocado na Convenção Oficial do PT em Brasília, em junho, por 8 dirigentes.
Agora, após ampla discussão durante a campanha eleitoral, já são 40 lideranças petistas de diferentes trajetórias, 30 candidatos e parlamentares eleitos de 16 Estados (v. edição anterior), que assumem a convocatória.
A sua força está na atualidade da reflexão e das conclusões que enseja.
Com a clareza de que é no terreno do PT que se dá "a luta pela emancipação do imperialismo e pelo socialismo, não há outro caminho" – confirmada pelos resultados decadentes dos outros partidos que disputam a representação da classe trabalhadora – a convocatória, todavia, recusa o oficialismo ao questionar "a erradicação da pobreza" sem "avançar e libertar a nação da herança de décadas de pagamento da dívida e de subordinação ao imperialismo".
Concreta, ela afirma o voto "como parte da luta por um verdadeiro governo do PT" – com o petróleo para Petrobras 100% estatal, a reforma agrária, as 40 horas e a solidariedade ao Haiti com médicos e não com tropas – mas lucidamente questiona "como avançar com o ‘acordo nacional com o PMDB’?". E termina "reafirmando um verdadeiro governo de mudança, com aliados, sim, mas aliados e forças comprometidas com as aspirações do povo".
Ponto por ponto não são estes os verdadeiros desafios para todo petista? Vendo o que já passou e ainda se anuncia no novo governo, o deputado Cândido não tem razão de dizer (abaixo) que "o povo que espera da Dilma, ver a vida melhorar, vai ter que lutar para ter o que quer"?
É a questão em debate nas Plenárias Estaduais e Reuniões que começam a organizar o Encontro de Março.
"Reatar com o passado para pesar no futuro"
Entrevista com o deputado paulista José Cândido, um dos organizadores do Diálogo
Trabalhador rural, José Candido foi um dos fundadores do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Oriente (SP), antes do golpe de 64. Formado torneiro-mecânico no SENAI, integrou-se ao movimento sindical de oposição metalúrgica, participando das greves sob a ditadura. A partir de 1988, exerceu três mandatos de vereador pelo PT em Suzano (SP), e depois de deputado estadual, reeleito com 60 mil votos.
Militante da questão negra, como presidente da Comissão de Direitos Humanos da Assembléia Legislativa, participou da delegação brasileira ao Tribunal Internacional que julgou os responsáveis do desastre do furacão Katrina, em Nova Orleans (EUA), em 2006, e deu todo apoio à campanha pela Retirada das tropas brasileiras do Haiti.
Entrevista à Bárbara Corrales, com quem organiza, no próximo dia 21 (às 10h na sede do Diretório Estadual, rua da Abolição, 279), a Plenária Estadual do Diálogo Petista, fórum que abraçou desde sua formação há dois anos.
Diálogo Petista – Terminada a campanha, você acha que a plataforma e as alianças ajudaram ou atrapalharam?
Cândido – No 1º turno foi feita uma ampla aliança do PT com outros partidos para eleger a Dilma, e não ajudou, pelo menos ela não foi eleita. Depois, os partidos da aliança também não ajudaram quando começaram os ataques ao PT. Na discussão sobre o aborto, por exemplo, não afirmavam o direito a vida como um projeto de política publica que precisa garantir que as crianças não morram de fome antes de 1 ano de idade, e saúde publica que garanta os direitos de vida das mães.
No 2º turno houve um compromisso ainda mais amplo, e isso vai atrapalhar, vai criar grande dificuldade para que a Dilma governe como candidata do PT. O povo menos favorecido que espera da Dilma, do PT, essa oportunidade de ver a vida melhorar, vai ter que lutar para ter o que quer.
Hoje, além do PMDB e do PSB já tem até o PV (que ficou em cima do muro) pedindo cargos no governo, querendo mandar. Por isso vai ser difícil. Não sei o que o presidente do PT quis dizer quando falou que o governo Dilma não era do PT.
DP – Como você a sua eleição na campanha de Mercadante governador?
Cândido – Minha campanha foi difícil, mas serviu de experiência para organizar um segundo mandato mais ligado às campanhas, às ruas e não somente na Assembléia.
A campanha do PT ao governo do Estado começou tarde. Vocês lembram que o Ciro Gomes, a pedido do Lula, mudou-se para cá e queria ser candidato. Eu combati na bancada essa posição, pois acredito que o melhor seria ter um candidato próprio do PT. Mas isso atrasou muito a campanha, que começou tarde e com o partido dividido.
Senti que a campanha do PT este ano, mais que nos outros, foi uma campanha igual a dos outros partidos, sem militância, só com dinheiro. E isso não é bom, pois o PT não foi fundado para ser igual aos outros, mas para honrar o nome de quem lhe dá o titulo, "trabalhadores", onde o povo busca um compromisso com as lutas.
DP – Como vê o lugar do Dialogo Petista nessa nova situação?
Cândido – Acho que o PT, para planejar o futuro, precisa olhar para trás, honrar as bandeiras da sua fundação. Precisa honrar o nome que dá o sentido da sua atuação, honrar os "trabalhadores" que tem no nome. O PT se fragmentou muito nos 8 anos do governo Lula, então precisa de muito Diálogo para reatar com o passado e pesar no futuro. Mas para isso precisamos ter um espaço para fazer essa reflexão. E o Diálogo pode ser esse espaço.
Ceará – Diálogo vivo na campanha
No dia 15 de outubro, os aderentes cearenses do Diálogo Petista se reuniram na sede estadual do PT. 31 sindicalistas, gente do mandato da deputada Rachel Marques e petistas do interior, debateram o resultado do 1º turno e o andamento do 2º turno.
Muitos tomaram a palavra para enfatizar a necessidade de derrotar os tucanos, mas de levantar igualmente as reivindicações que devem dar o tom de um Governo do PT, com Dilma à cabeça.
Professores lembraram que a luta do Piso continua até a sua real implantação, e que a prefeita de Fortaleza, Luizianne, deveria dar exemplo, pagando ela mesma conforme a Lei. Servidores federais enfatizaram o cumprimento dos acordos firmados no Governo Lula com a retirada imediata do PL 541 que zera os investimentos no serviço público por 10 anos.
Vários levantaram que o PT deve retomar as bandeiras que o constituíram e reavi
var seus vínculos com o movimento.
No Ceará, isso passa por se desvencilhar do Governo Cid Gomes (PSB), um dos autores da ADIN no STF contra o Piso dos professores, que criou a situação em que Serra na TV mentia "apoiando" o Piso questionado pelos governadores do PSDB, e Dilma não reagia para não constranger o "aliado".
A principal decisão foi convocar uma grande Plenária de balanço e preparação do Encontro Nacional previsto para março. Todos se engajaram na eleição de Dilma para continuar nas melhores condições a batalha pelas reivindicações urgentes pendentes dos oito anos de Lula.
Eudes Baima
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