Para uma reflexão sobre o PED 2025

A pedido da Redação apresento alguns elementos de reflexão para um futuro balanço, com as informações irregulares que dispunha.

Em primeiro lugar, falta a votação de Minas Gerais, para um verdadeiro balanço. O PED-MG foi adiada para este domingo dia 13, pelo que entendi, por uma disputa nas cúpulas sobre a regra do depósito do pagamento estatutário, o que levou um dos lados a recorrer à justiça. Mas isso já seria depositar o partido nas mãos da justiça da classe dominante e aí este setor perdeu o grão de razão que podia ter. Em consequência, a deputada federal Dandara (RS, Tribo, MPT e divisão do CNB) ficou fora da disputa pela presidência estadual. Ela tinha uma grande dívida com o PT, é verdade, mas vazou há vários outros parlamentares com dívidas até maiores, mas não candidatos, o que não é motivo para que continuem na sombra.

Estão no pleito em MG o professor Juanito (Virar à Esquerda-DAP), Esdras (avulso independente) e a deputada Leninha (CNB, apoiada pelo resto das tendências com assento no DN).

Alguns dados: a totalização (sem MG) apurou 471.089 votos, sendo 434.066 válidos, o que é 50% de votos à mais do que no PED anterior, em 2019 (descontando MG), quando votaram no total 350 mil, sendo 300 mil válidos. A previsão que ouvi entre dirigentes do partido oscilava de 400 e 450 mil. Com a expectativa de entrarem 40 mil votos de MG, domingo, passaríamos para o recorde de 500 mil votos!

O PT estaria tão bem assim?  Não foi o que falaram os candidatos à presidente na campanha, inclusive o vencedor Edinho, candidato de Lula.

Haverá muitos balanços deste PED. Haverá o balanço de Edinho que emplacou 73% dos votos (antes de MG). Rui Falcão estava com 11, 3%, Romênio com 10,7% e Valter Pomar 4,66%. É provável que Edinho e a CNB sejam os maiores beneficiários da onda de votos maior que a prevista.

Haverá também balanços que incluirão o impacto, ao longo período de 2019 para cá, do crescimento do Fundo Partidário para 153 milhões de reais, do grande crescimento do Fundão Eleitoral para 620 milhões de reais distribuídos pela oligarquia dirigente de cima para baixo e, finalmente, da explosão das emendas parlamentares distribuídas pelos próprios, no valor de 50,4 bilhões de reais.

A coisa chegou a um ponto que neste PED houve locais de votação onde assessores parlamentares (profissionais) controlavam o comparecimento baseados na atribuição de emendas na área ou, então, nos adesivos que “carimbavam” o eleitor na fila. Ai de quem não entregasse o comprometido! Embora outras tendências também tenham parlamentares com emendas – eu não vi elas questionar -, é claro que a mais bem relacionada com a cúpula do Congresso e nos Ministérios é a CNB.

O DAP sabia que não tinha, nem pretende ter, condições para disputar em pé-de-igualdade neste terreno.

Mas o PT não é só PED. O DAP deve se orgulhar da campanha que fez, na minha opinião, pelos debates e pelas novas relações estabelecidas, e inicia agora um balanço que deve ser cuidadoso e detalhado.

A totalização publicada pela SORG nos atribui 5103 votos, ou 1,18% dos válidos. Com MG podemos superar o total de 6850 votos que tivemos em 2019.

Agora atenção antes de fazermos contas da representação e comparações nas instancias nacionais. Devemos lembrar que a degradação do cenário institucional (Fundão etc.) foi acompanhada da alteração, uma degradação também das regras do PED deste ano. Entre outras mudanças para pior, está a eleição “direta” – sem real discussão entre as centenas de milhares de eleitores – para todos os cargos nacionais.

Ora, em 2019, se elegeram nas urnas delegados aos Encontros Estaduais, os quais elegeram aí os delegados nacionais, que, então, no Encontro Nacional elegeram o Diretório e a Executiva. Foi só assim que o DAP, começando com 2,15% dos 300 mil votos em urna, pode conquistar, pela discussão com algumas centenas de petistas nos Encontros Estaduais, mais delegados no Encontro Nacional, chegando a 2,6%, o que deu um membro na CEN e três no DN.

Agora vamos ao que deveria ter começado esta nota, a avaliação política. Ainda vamos discutir nas instâncias do DAP, a rapidíssima evolução da situação do país nas últimas semanas e, pé no chão, o tamanho do seu efeito no PED.

Há dois meses, quando o governo adotou um decreto elevando o IOF, a situação evoluiu para um conflito aberto entre o governo, o Congresso e os capitalistas contrários à medida, de um lado. E de outro lado, houve a elevação da temperatura no julgamento de Bolsonaro e dos generais golpistas no STF. Ficou configurada a resistência à taxação dos super-ricos, ao lado do alinhamento com os bolsonaristas contra o governo. Finalmente, 72 horas depois do PED, veio o ataque imperialista de Trump que terminou de dar uma tonalidade popular antiimperialista à situação.

Constatamos que tudo parece, repetimos parece, ir a desejada “virada à esquerda”, pois se opõe as forças populares que sustentam Lula, à extrema direita vende-pátria e aos setores patronais que temem mais a mobilização popular do que a humilhação nacional e mesmo um certo prejuízo. Esta situação nova não caiu do céu, vinha se preparando de antes das ameaças de Trump. Ou seja, ricos contra pobres, Lula versus reação, “esquerda contra direita”. Uma reflexão necessária é saber como isso influenciou no animo dos petistas no dia 6.

 Esta reflexão somado a muitos outros elementos devem ser devidamente pesados e apreciados numa avaliação mais consistente do PED.

Cristiano Junta, membro da Coordenação Municipal do DAP São Paulo.

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