Ucrânia – Nem Putin nem Trump nem Zelensky

Enquanto o horror da guerra na Ucrânia continua – segundo o Wall Street Journal, em setembro passado já havia mais de 1 milhão de mortos ou feridos de ambos os lados – as potências passam por cima de todos para buscar uma “solução”. Trump e Putin conversam 1 ½ hora, não consultam depois Zelensky nem a União Europeia, muito menos a ONU.

Trump descobriu após três anos e 119 milhões de dólares depois, que Zelensky é um “ditador”. De fato, ele instalou a lei marcial, suspendeu as eleições e muito dos direitos democráticos, por exemplo, os sindicais e trabalhistas. Por ora, Trump obliterou as denúncias contra as “eleições” que há 25 anos mantém Putin no poder. Trump acenou e Putin se abriu para um acordo “geopolítico” a partir da Ucrânia. A administração Trump ainda quer cobrar os investimentos militares com a garantia de exploração exclusiva por empresas estadunidenses de minerais da Ucrânia, uma pilhagem.

O governo Lula, corretamente, recusou o convite para o Brasil participar de mais uma “missão de paz”, agora na Ucrânia, para garantir um suposto acordo negociado entre Putin e Trump.

Aqui no Brasil, veremos como reagem os tarados pela “geopolítica” que trocaram a luta de classes pela disputa entre Estados. Aqueles que, inclusive na direção do PT, fazem o raciocínio binário de que “o inimigo do meu inimigo é meu amigo”, ou seja, pró-Putin, ficaram mal na foto, não é mais Biden contra Putin, e é difícil dizer que Trump vai melhorar o mundo.

A patrolagem da União Europeia (UE), por sua vez, é um novo ato da tragédia da ordem saída da 2ª Guerra Mundial. Há 30 anos em declive, agora só lhe resta saudade do precário equilíbrio que acabou depois do fim da URSS sob os golpes dos movimentos de classe e da crise profunda do capitalismo como tal.

Agora, Trump exige à Europa o aumento ainda maior das despesas militares – portanto, novos cortes sociais – já que, se diz, deslocariam até 40% dos 100 mil soldados estacionados na Europa para a “região asiática”. Quer dizer, um corolário do teorema da “guerra comercial” com a China. Como repete Trump e equipe, o problema não é a Rússia, é a China.

A UE anunciou o 16º pacote de sanções à Rússia. Mas ela tem não armas nem condições internas de intervir diretamente na Ucrânia contra a Rússia, sem apoio dos EUA. A UE está atordoada. O vice-presidente dos EUA, em viagem à Europa estes dias, disse num evento diplomático que os Estados Unidos garantiriam a soberania da Ucrânia, inclusive uma “pressão militar” sobre a Rússia. No entanto, o Secretário de Defesa dos EUA – também na Europa – mas numa reunião da OTAN, declarou que não haveria envolvimento de soldados americanos na Ucrânia. Quer dizer, nada está claro. O clima entre os chefes de estados europeus é de “barata voa”.

Para os povos que sofrem, nenhum dos governos envolvidos – nem Trump, nem Putin, nem Zelensky – traz a esperança segura de paz. Sobra para os povos exigirem o fim da guerra e o imediato cessar-fogo.

Markus Sokol, membro da Executiva do PT e Comitê Nacional do DAP

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