O globo de ouro e os generais de lixo
Em poucas semanas, mais de três milhões de brasileiros já assistiram “Ainda estamos aqui”, filme de Walter Salles, uma consagração. Obra de arte, é a palavra, o filme aborda o sequestro e desaparecimento do ex-deputado cassado Rubens Paiva (PTB) em 1971. Obra de horror, por sua vez, realizada pelos esbirros do general-ditador de plantão, Emílio Garrastazu Médici.
Há 11 anos, a Justiça aceitou a denúncia do Ministério Público responsabilizando 5 militares, entre eles o general José Belham, que segue impune, recebendo um soldo de R$ 36 mil mensais.
Hollywood
O filme levou o prêmio de melhor atriz estrangeira do 82° Globo de Ouro para a atriz Fernanda Torres no papel da companheira de Rubens.
A repercussão na opinião pública nacional eleva o filme e dá atualidade à questão não- resolvida da tutela militar. Afinal, há algumas semanas, a Polícia Federal indiciou 37 oficiais, vários generais de quatro estrelas e almirantes, por conspiração para um golpe de estado com triplo homicídio, inclusive do presidente então eleito, Lula do PT.
A força do filme, produzido pela Globoplay, tenta ser apropriada por diferentes setores. Um exemplo, o Grupo Itaú que saiu incólume da ditadura e hoje é o maior conglomerado financeiro do país, iniciou uma campanha publicitária com a imagem de Fernanda Torres. Pode se questionar o sentido do uso da imagem.
O recorde de cinismo, sem dúvida, é do editorial de 7 de janeiro da Folha de S. Paulo sobre o prêmio. Abre dizendo que “mostrou ao mundo que existiu uma ditadura no Brasil”. Não me diga! Faltou lembrar dos carros de entrega do jornal utilizados como disfarce pelos agentes torturadores do DOI-CODI, enquanto o jornal escondia do mundo o que se passava.
31 de Março: Hora de punir os generais, almirantes e brigadeiros de 1964-85 e 2022-23
Para os democratas, os trabalhadores e oprimidos, o principal é levantar bem alto a bandeira da ruptura democrática necessária, sem conciliação, pela Punição de Todos os Generais Golpistas, de ontem e de hoje, e preparar os atos dos 61 anos do golpe militar.
Markus Sokol