Trump: política migratória ameaça até intercambistas
Os jornais da semana deram capa para a decisão de Trump de suspender a vinda de estudantes universitários, técnicos e até intercambistas. Instruções foram dadas aos consulados dos EUA pelo mundo a bloquear ou postergar os pedidos de visto.
O Brasil é o 9º país com mais estudantes nos EUA, com 16.800 jovens, e em expansão. Mas a situação dos estudantes internacionais nos EUA se complica na medida em que Trump aumenta a perseguição às universidades e aos imigrantes.
Internamente, a hora é de cortes de bolsas e intervenções federais nos orçamentos das universidades, assim como o aumento do policiamento em torno de migrantes – tanto os sem documentos quanto os que possuem visto de trabalho – afeta esses estudantes. Eles são uma importante parcela da produção acadêmica do país, contribuindo para uma ciência multicultural e em diálogo com o mundo, mas são mal vistos pelo obscurantismo oficial.
Estudantes de pós-graduação nos EUA possuem visto de estudante e contratos de trabalho de meio período em suas universidades, são “assistências para pós-graduandos”. Elas provêm um pequeno salário, a mensalidade da escola e seguro de saúde como pagamento por assistência em pesquisa ou em ensino; eles ainda podem trabalhar em laboratórios, pedir financiamentos ou dar aulas.
O visto de estudante necessário para estar legalmente depende da capacidade de provar meios de subsistência. Sem a vaga de assistência, esse valor é de cerca de 300 mil reais por ano. Ou seja, sem a bolsa, é inviável a permanência da ampla maioria dos mais de um milhão de estudantes estrangeiros no país.
Ao atacar o orçamento das instituições de ensino, Trump ataca também a vida de centenas de milhares que, muitas vezes com suas famílias, dependem das bolsas. O fim abrupto da renda pode significar o abandono das pesquisas antes da obtenção do diploma, um retorno brusco ao país de origem e o desemprego.
Entre os estudantes latino-americanos, o arrocho significa o medo de ser considerado um latino “ilegal”. A universidades orientam que todos andem com documentos que comprove a legalidade da presença e a condição de estudante internacional. Como se vê, há um “clima”.
O ódio que Trump destila aos imigrantes chega aos órgãos de controle da fronteira na forma de uma vigilância violenta. Revista de telefones celulares e computadores na busca de provas de discordância com o governo podem resultar na negação da entrada de estudantes internacionais, às vezes apenas de retorno país de um congressos no exterior ou da visita a família nas férias.
O governo brasileiro deveria fazer ouvir sua voz numa questão – a cooperação científica e acadêmica – que interessa ao desenvolvimento das nossas universidades e do conhecimento em geral.
Dora, estudante de doutorado filiada ao PT