Eleições na Alemanha: uma grande rejeição
Diferente da abordagem da grande mídia, publicamos um resumo do artigo de Stéphane Marati, do semanário francês Informations Ouvrières (n° 847), órgão do Partido Operário Independente – A Redação
O apoio à guerra do governo de coligação do SPD (socialista), dos Verdes e do FDP (liberal) levou o país à desindustrialização massiva. A política de liquidação dos serviços públicos e de conquistas em nome do financiamento do esforço de guerra, sob ordens dos EUA, foi severamente sancionada nas urnas: o SPD teve seu pior resultado desde 1990 e perdeu 3,8 milhões de votos. Os Verdes perderam um milhão. O FDP desapareceu do Parlamento. Não é muito melhor para a direita CDU/CSU que avança em relação à crise de 2021, mas teve a segunda pior pontuação da história com 28,5%.
A rejeição é imensa. Os compromissos e os recuos em nome da estabilidade do poder, arruinaram aqueles que nisso se afundaram e, pior, fortaleceu a reação: o partido de extrema direita AfD, apoiado por Elon Musk, obteve 5,5 milhões de votos.
Já a Aliança Sarah Wagenknecht (BSW) que concorreu pela primeira vez ao Bundestag recebeu 2,5 milhões de votos, 4,97%, ficando pouco abaixo da barreira de 5% para entrar no parlamento. Na verdade, seu voto a favor da lei apresentada pela CDU no começo do mês, e apoiada pelo AfD, com o objetivo de restringir a imigração, teve um papel decisivo e gerou uma crise interna.
Essa votação – que quebrou o isolamento histórico da AfD – ajudou a normalizar a extrema direita e desencadeou grandes mobilizações que reuniram mais de 800.000 alemães. Denunciar a imigração no lugar e ao invés da política do capital – que precisa de mão de obra estrangeira e a utiliza para dividir a classe trabalhadora – é um beco sem saída. O partido Die Linke (A Esquerda) beneficiou-se entre os jovens dessa rejeição legítima da AfD, dos partidos estabelecidos e do vácuo político – partindo de 3% nas pesquisas algumas semanas antes de participar das enormes manifestações, terminou com 8,7%, dois milhões de votos.
“AS EXIGÊNCIAS ESTÃO DEFASADAS EM RELAÇÃO AOS TEMPOS” (GOVERNO)
Diante de greves e disputas salariais no setor público, a resposta do governo é que “as demandas estão fora de sintonia com os tempos”.
Christiane Benner, presidente do poderoso sindicato IG Metall, deu o tom: “Estamos correndo contra o tempo. A indústria e os trabalhadores não podem esperar meses por perspectivas claras”. Ainda mais surpreendente, Heidi Reichinnek, a estrela parlamentar do Die Linke, declarou: “Estamos prontos para cooperar com todos os partidos democráticos no Bundestag a fim de garantir a estabilidade política”. Um refrão já ouvido na França e em outros lugares. O deputado do Die Linke, Bodo Ramelow, ex-presidente do Land da Turíngia, até considera trabalhar com um governo liderado pela CDU, pois o Die Linke no Bundestag é “tão capaz de fazer concessões quanto o minha bancada n a Turíngia” (Der Spiegel). O medo, os compromissos e os recuos levarão ao desastre. Para eles e para a sociedade. Os trabalhadores não aceitarão isso.