“Só com soberania o povo pode encontrar soluções para seus problemas”, afirma Markus Sokol sobre o Haiti

No dia 21 de março aconteceu o relançamento do Comitê ‘Defender o Haiti é Defender a Nós Mesmos’ na Câmara de Vereadores de SP. O evento contou com a participação de mais de 50 lideranças sindicais e populares, parlamentares e dirigentes do PT.

No evento, o companheiro haitiano David Oxygene, dirigente do Mouvement de Liberté, d’Égalité des Haïtiens pour la Fraternité – Molegaf (Movimento de Liberdade, Igualdade dos Haitianos pela Fraternidade) trouxe a real situação do povo haitiano que é “massacrada pelas gangues, por grupos armados à serviço de interesses da burguesia e isso é consequência do controle que os Estados Unidos exercem no país” apesar da resistência das organizações populares. (leia mais no final da matéria)

Abaixo reproduzimos a fala de Markus Sokol, membro da direção nacional do PT que fez um apanhado do combate feito pelo Diálogo e Ação Petista contra a Minustah e a participação brasileira.

“Iniciamos a campanha contra a participação do Brasil na Minustah, ainda antes do embarque das tropas. Partíamos de um princípio: nunca ajudará um povo a intervenção militar estrangeira quebrando a soberania nacional. Só com soberania é que o próprio povo pode encontrar soluções para seus problemas.

Fizemos um ato amplo de lançamento no Largo de S. Francisco (lembro de Suplicy, Plinio Sampaio e Fernando Morais), fizemos um abaixo-assinado de urgência que, com umas 20 mil assinaturas, levamos na audiência solicitada ao ministro de Relações Exteriores, sendo recebidos pelo secretário-executivo do ministério, Embaixador Samuel Pinheiro Guimarães. Figura de respeito no Itamaraty, perseguido por FHC, Samuel, ao receber o abaixo-assinado se disse surpreso com o número de adesões, e me falou: “fica tranquilo Sokol, nós não vamos lá nos empantanar como os americanos fazem, vamos ficar 6 meses, organizar eleições, e sair” … mas foram 13 anos. Como argumentei que o Brasil podia ajudar o Haiti de outros modos, ele respondeu que a missão seria a oportunidade do Brasil mostrar sua capacidade e “conquistar a cadeira no Conselho de Segurança da ONU que pleiteamos”.

Não sei porque tem que ter um grupo de “5 grandes” com poder e veto nesse Conselho, que aliás, não resolve nada nesse mundo de guerras, como agora mesmo na Ucrânia. De todo modo, 20 anos depois, nada dos americanos nos darem uma cadeira.

Alguns anos de campanha depois, fomos numa delegação de inquérito ao Haiti, e, entre outros, fomos recebidos pelo então comandante das tropas, o General Santos Cruz, este mesmo que esteve no começo do governo Bolsonaro e depois rompeu. Ele até foi correto. Mostrou números e comparativos dos níveis de violência em Porto Príncipe, com o Rio e com outras cidades do mundo para concluir que “aqui está sob controle, o problema do Haiti não é de segurança, é de investimento”. Na época, Clinton patrocinou um fundo de grandes empresas, milionários e ONGs de 1 bilhão de dólares para o Haiti, que nunca chegaram (o que vinha de ajuda escorria pelo ralo da corrupção). Quando questionamos, então, a presença do Brasil na Minustah, ele respondeu que estava ali cumprindo ordens, que nos dirigíssemos ao presidente da República. 

Vejam vocês. No Uruguai que também tinha tropas na Minustah, há poucos anos foram punidos 7 soldados que estupraram garotos haitianos. Houve denúncias, o exército fez uma investigação e puniu com desonra estes soldados. 

Também sobre as tropas brasileiras houve denúncias de estupro de meninas e meninos. Mas no Brasil nenhum militar foi punido. Aliás, alguém lembra de algum militar punido alguma vez no Brasil? (“Não!” do plenário). Então, essa questão é muito atual, porque os soldados e seus chefes estão aí, como já foi lembrado aqui. Acho que quando demos ao Comitê o nome de “Defender o Haiti é defender a nós mesmos”, não tínhamos ideia da profundidade desta afirmação. Porque defender o Haiti é combater o racismo – a elite não se interessa pelo Haiti e quer que os pretos se danem. Mas defender o Haiti é também combater a tutela militar sobre a República.

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